Acalanto!
Oh! Suave acalanto de minh’alma!
Cândido, terno, doce ninar.
Delicada canção que me acalma.
Esse teu canto, nesse balançar.
Esta paz que envolve minha vida
Que trazes no caminho ao meu canto
Me consola da jornada tão sofrida
Impedindo que eu derrame este pranto
O sossego que me leva a refletir
Que o melhor é deixar acontecer.
Se é amor ou dor não vou sentir
Me encanta e adorna meu viver.
Este som que eu ouço, tão suave
Que afugenta o inimigo, meu algoz.
Nada mal, danoso, nada grave
Me acontece quando escuto tua voz.
(Afonso Celso)
Brasília,21/01/22
Meu cântaro
Pingos de alegria, doçura e de lembrança.
Gotas luminosas que se transformam em rios.
Marcas do passado, ganhos e esperança.
Perdas, desencantos, pranto e desafios.
Enche este meu cântaro, oh chuva divina!
Dá-me este consolo da dor e da saudade.
Traz contigo a definição, a sina.
Mostra outro caminho de paz e de bondade!
A luz que me completa, tua luminescência,
É o mais puro reflexo de uma oração.
Marca profundo o meu ser, a consciência.
Traz conforto, me alegra o coração.
Que cântaro é este? – Pronto me indagas.
Te respondo sem pensar, sem hesitar:
É o que tenho, te acolhe e tu afagas.
É o meu peito, meu pensar, meu caminhar.
Como é bom te ver cair e te sentir.
Lembrar quando tinha tenra idade.
Me abraçavas, quase não me deixavas ir.
Eu que te tinha, tenho agora esta saudade.
(Afonso Celso)
Brasília,28/01/22
Liberdade
Te busquei em uma cálida manhã
Não te vi. Parecias te esconder.
Como Eva, tu me deste uma maçã
Me encantaste, foi difícil te esquecer.
Nunca vi tão mesquinha ilusão.
Me evitavas, saciando teu prazer
Machucando, me eclodindo o coração
Como ao vento, ao teu bel prazer.
Tal um louco, ensandecido te busquei
Em todos os lugares já pensados
Fiquei triste porque nunca te encontrei
Nem na vida nem em sonhos almejados
Mas as voltas que o mundo sempre dá
Mudam tudo, corpo, mente e coração
Muda ideias, pensamentos, meu pensar
Traz clareza, liberdade e redenção.
Hoje eu tenho a liberdade que perdi
Ao tentar te encontrar e te perder
Na verdade, eu ganhava e não vi
Minha vida, minha alma, o próprio ser.
Fiquei livre desta torpe escravidão
De tentar sempre, sempre te agradar
Só agora eu entendo a gratidão
De buscar te encontrar e não achar.
(Afonso Celso)
Brasília,04/02/22
O QUE HÁ?
O que há além do horizonte?
Diga-me estrela do Norte!
Um fato, um ato, me aponte,
Ou prefere que eu lide com a sorte?
Caminhos, destinos, desenlaces
Sonhos, sorrisos, sensações?
O que virá de encontro à minha face?
Vitórias, tristezas, desilusões?
O que há que eu possa fazer?
Responde-me sol da manhã!
Se vou seguir, preciso saber.
Cansaço, afago, esperança vã?
O que há que busco e não encontro?
Tira minha dúvida, apaixonada lua!
Não deixes que eu me perca num confronto
Ou morra nesta dúvida que flutua.
O que há depois da vida? A morte?
Não, não se pode conceber.
Não se vive apenas à própria sorte
Há um destino, missão. Há de haver!
Se não fora a esperança de outra vida
O que esperar aqui, agora, desta?
A missão em nossa mente inserida
Esta, sim, é a esperança que nos resta.
Só tu ficaste, linda flor da manhã!
Desfaz este obstáculo de uma vez!
Livra-me desta dúvida, deste afã
E me diz o porquê que Deus me fez.
(Afonso Celso)
Brasília,11/02/22
UMA LÁGRIMA!
A lágrima que corre no teu rosto
Demonstra um sentimento, uma emoção?
Talvez retrate tão somente teu desgosto
Ou – quem sabe? – Uma tristeza, uma ilusão!
Pode ser pura, verdadeira, tão real
Que, de longe, não se possa definir.
Pode ser falsa, sentimento irreal
Ou artimanha, tua arte de fingir.
Uma esperança, um presságio, uma certeza?
Ou a verdade de quem sabe que perdeu?
Uma lembrança de um carinho, uma tristeza
De um momento que amou e que viveu?
Essa lágrima que agora tentas evitar
E que teima em romper tuas lembranças
Talvez seja a melhor forma de lembrar
Tua espera, um encontro, uma esperança.
Não a contenhas, deixa agora que se vá
Se é verdadeira, espontânea, tão normal
Não a impeças, deixa que fique como está
Banhe teu rosto, te devolva o natural.
Chorar é bom, nos devolve a sensatez
Dá-nos bom senso, sentimento tão antigo!
Traz calmaria, pensamentos, polidez
Meditação e nos devolve nosso abrigo.
Por isso chore, não se deixe, angustiar!
Neste momento, de tristeza e amargura
O que essa lágrima, indolente quer mostrar
É a tua única saída, tua cura.
(Afonso Celso)
Brasília,18/02/22
UMA DEUSA, UMA MULHER!
Ela passa com um sorriso permanente
Sabe que tem o mundo a seus pés
Com passo calmo, leve, firme, consistente
Sabe de si, não teme ter qualquer revés
Elegante, cabelos louros, bem cuidados
Semblante de quem sabe o que quer
Cada olhar, cada gesto desenhado
De acordo com os instintos de mulher
A cada dia está mais bela, endeusada
Por aqueles que almejam um só olhar.
As palavras sempre ternas, calculadas
Como seus passos nesse leve caminhar
No fundo sabe que ninguém a ameaça
Talvez orgulho, uma pequena sordidez
Por tudo ter, o que quiser, por onde passa
Por sentimentos, esperanças que desfez;
Fica uma dúvida, constante e insistente
Sendo assim, tão bonita como é,
É do futuro, do passado ou do presente?
É uma deusa ou será uma mulher?
Talvez um dia, chegue a hora da verdade
E ao tentar encontrar seu grande amor
Veja que a chance, a grande oportunidade
Passou tão perto, e, se viu, ignorou.
(Afonso Celso)
Brasília, 25/02/22
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QUIMERA
Discretos sussurros ao acaso
Um suave perfume está no ar
Uma flor vermelha neste vaso
Um sorriso, uma sombra a me encantar
Palavras não ditas fazem falta
Nas lembranças, doces recordações
A certeza de perda que me assalta
Me desperta, me traz duras lições
Quem me dera esquecer desses momentos!
Viver simplesmente por viver
Me livrar, descartar tais sentimentos
Nunca mais me lembrar, te esquecer
Tua imagem que hoje me acompanha
Onde quer que eu vá ou sonhe estar
Me aprisiona, me amarra, é uma sanha
Um desejo de ver, de lá estar.
Impossível medir esta saudade
Definir, calcular, dimensionar
Só me resta encarar esta verdade
Te perdi, tenho que recomeçar
Pois um novo caminho me espera
Opções de uma vida de aventura
Escapar do passado, da quimera
Ter presente, futuro, ter ternura.
(Afonso Celso)
Brasília, 04/03/22
A NOIVA
Um sonho há muito tempo elaborado
Pensado em detalhes, passo a passo
Como um castelo, torre a torre emoldurado
Ou um desenho feito a régua e compasso
Todas as flores escolhidas com carinho
Cada canção relata o sonho de outrora
A passarela mostra a vida, outro caminho
Realidade, do momento, do agora.
Tudo pensado, por meses, anos a fio
Com a certeza de que tudo vai dar certo
A nova vida que virá, um desafio
Um grande amor que estará sempre por perto
Qualquer templo que receba esse enlace
Fará, por certo, o acolhimento desse amor
Não há enredo, fantasia que disfarce
A alegria, o desfecho, esse sabor
Talvez se a lua se mudasse para cá
Neste mágico momento de ternura
Com seu encanto pudesse melhorar
Tanta alegria, poesia e candura.
Toda de branco, passos curtos, mãos de flor
Sobre o tapete que emoldura o seu caminho
Vai ao encontro do destino, do amor
Pra construir um novo lar, um novo ninho.
Tudo que pode nesta vida imaginar
Se resume num momento terno assim
Chega ao destino, chega ao topo, ao altar
Pra responder emocionada com um sim.
(Afonso Celso)
Brasília, 11/03/2022
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Outono!
Da janela do meu quarto sinto algo diferente
Um novo ar, novo espaço, mais beleza, menos luz,
Da palmeira que vi ontem cai uma folha à minha frente
A brisa que agora sopra me encanta e me seduz
Nesta época do ano o clima está mais ameno
Árvores perdem suas folhas, pássaros buscam seus ninhos
Tudo gostoso e perfeito, o verão dá adeus com um aceno
Começa a nos rodear um pequeno friozinho
O encanto do planeta se apresenta se revela
Tudo vira poesia, amor, frescor, nostalgia
Quem dera houvesse um pintor pra revelar numa tela
Tal resplendor e beleza transbordando em harmonia
Dá vontade de sair, de ver tudo, passear,
De entender a magia de tudo o que aconteceu
Ver as cores, humores, passarinhos a cantar
De apreciar tal mudança, desse bem que Deus nos deu.
Como o amor que aparece de repente e nos atende
É como a alegria, o prazer infinito sem dono
Toda beleza do mundo nos encanta e surpreende
Seja bem-vindo, lindo, amado e esperado outono!
(Afonso Celso)
Brasília, 25/03/2022
BARBARELA
Toda manhã ela passa com seu belo sorriso
Meiga, terna e elegante alegrando o meu destino
Parece que sabe o que quero, o que tenho, o que preciso
Pássaros cantam e simulam sinfonia ao violino
Sempre linda de azul, branco, verde ou vermelho
É uma fada, princesa, Barbarela desta rua
Nada há que retrate tal beleza, nem o espelho
Fato que se compara com a beleza desta lua
Não sei seu nome, origem, sequer seu paradeiro
Mas sei que chama a atenção seu olhar de tigresa
Que no meu coração pulsa um amor verdadeiro
Povoa meus pensamentos aniquila minha defesa
Aonde vai, o que quer, o que faz, o que pretende?
Precisa de tanta elegância, desse olhar enigmático?
Não liga, despreza, ignora ou simplesmente não entende
Olhares, sonhos, canções por seu jeito performático?
Entra no carro, acelera e some no horizonte
Deixa pra trás um perfume, um rastro de singeleza
Sabe que todo esse encanto, talvez nunca se encontre
Transforma todos que a vêm num refém, em uma presa
Resta esperar o amanhã pra tudo se repetir
Contar as horas, minutos, ver o tempo passar
Ver o dia, a noite, a esperança se esvair
Pra mais uma tentativa de encontrar o teu olhar.
(Afonso Celso)
Brasília, 01/04/2022